quinta-feira, 16 de junho de 2011

Minuto de Silêncio- Siegfried Lenz

Christian é um adolescente que vive numa cidade pesqueira no Mar Báltico. Stella é sua professora de inglês no colégio. Durante as férias de verão, eles experimentam um envolvimento amoroso — o primeiro da vida de Christian —, embalados pelo acaso e pelas referências de um suave cotidiano à beira-mar.



Essa história, porém, se desdobra em flashback. Pois uma tragédia ampara a narrativa de Minuto de silêncio. Uma tragédia insinuada desde a primeira linha, desde o título desta breve ficção. E que, no entanto, só se dá a ver por completo nos últimos parágrafos, respeitando a lógica de intrincada delicadeza que desenha a prosa deste livro.

Minuto de silêncio é o primeiro título publicado no Brasil de Siegfried Lenz, um dos escritores mais importantes da literatura alemã contemporânea. O prestígio de sua vasta obra é comparado, em seu país, ao de seu colega no grupo de pioneiros literários do pós-guerra, Günter Grass, para citar um nome mais familiar ao público brasileiro. A escolha dessa novela para introduzir o trabalho de Lenz nas prateleiras nacionais não foi por acaso: apesar de sua brevidade, Minuto de silêncio é considerado pela crítica como um dos títulos que melhor condensam as qualidades técnicas do prosador — não podemos falar o mesmo da trama, uma vez que a temática amorosa nunca se apresentou de forma corriqueira em sua ficção.
Herdeiro assumido do americano Ernest Hemingway, Lenz trabalha com uma prosa seca, direta, de falas raras e cenas simples. Munida de tal austeridade, a sua escrita adota o jogo das evidências discretas. O verão na costa norte se abre luminoso e intenso; já as ações que pontuam a história, com tudo o que esta carrega de paixão, fatalidade e dor, são narradas com uma brandura das mais elegantes. Como afirma a tradutora Kristina Michahelles no belo texto que prefacia o livro, o autor trabalha com um “erotismo sutilíssimo, apenas sugerido, quase envergonhado, que se transforma em uma sensualidade fisicamente perceptível pelo leitor”. Sua obra seria um elogio um tanto nostálgico ao tato e à gentileza, uma vez que o “rito de passagem de Chistian, o jovem colegial que amadurece à força, é também o rito de passagem do leitor de um mundo de consumismo, sexo escrachado, velocidade turbinada, multidões de volta para o silêncio e a riqueza da lentidão”.

Apesar de ter sido escrito quando Lenz já contabilizava mais de 80 anos, Minuto de silêncio tem cativado leitores mundo afora pela precisão com a qual descreve o frescor da paixão adolescente, com tudo o que ela representa de descobertas, dúvidas, mal-entendidos, graça e dor. Para fazer isso com a pureza necessária, o autor recorreu ao passado. Apesar de não ter seu ano definido, é possível estimar que o verão que emerge nas páginas do livro pertença à década de 1970.

Minuto de silêncio também ficou conhecido pela história de amor por detrás do livro: Lenz começava a escrevê-lo quando sua mulher morreu, subitamente. Por pouco, o autor não teve forças para terminá-lo. Mas, ao assumir o desafio e pôr ponto final na novela, conseguiu transportar para as suas páginas, mais do que a dor de uma grande perda, a ternura que habita a memória daqueles que amamos.

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